Abraço de arrepios

Desta vez num formato bastante distante do usual, começou numa conversa entre duas amigas, amigas estas não foram provocadas pelo tempo ou por escolhas da vida, mas por uma simples e confusa circunstância paralela na vida de ambas.
Como já vos falei antes da Ana e da Mia, as inimigas aliadas para se tornarem amigas das pessoas, principalmente de adolescentes indefesas e cheias de questões ao mundo, desta vez tentei perceber um bocado do outro lado, não apenas do que vivi ou presenciei mas também daquilo que outras pessoas vivem e sentem. Foquei-me em falar da Bulimia, palavra que desde já a "Fagulha", a rapariga mais saltitona e irritante com quem alguma vez me poderia cruzar nas ruas, ela disse-me que a assustava e que não a conseguia dizer com tranquilidade palavra e doença que a tocou na pele por alguns instantes mais duros e outros menos aterrorizantes.
É isso, éramos pessoas de mundos completamente distantes e só me aproximei dela quando me arrepiei nos pensamentos de que podia estar a passar por tudo tão duro como eu, ou de uma forma até mais agressiva.
Esta conversa no meio de milhentas antes tidas, soou a entrevista e decidi partilhá-la convosco.
M- Tinhas prazer quando comias?
F- Sim, quando abria o armário das bolachas e atacava aquilo tudo sentia-me satisfeita e bem.
M- E depois o que sentias?
F- Acabava por ficar com peso na consciência, e sentia que tinha que deitar aquilo tudo fora, sentia-me horrível. 
M- Quem consideras que tenha sido importante para ti nesta fase?
F- Tive quatro pessoas, que por um lado sinto-me culpada por as ter feito sofrer. Eu não conseguia falar com ninguém, nem chorar ao pé de ninguém e a primeira pessoa que fez com que eu sentisse confiança foi a Patrícia, e era a última pessoa de quem esperava isso, o último "lugar" de onde esperava algum dia vir uma amizade, e foi realmente importante e sinto-me muito grata, apesar de já não nos dar mos, sinto que foi muito importante nisto tudo.
M- E as outras pessoas?
F- A minha mãe claro, que apesar de não conseguir discutir ou gritar com ela, fez de tudo para me ajudar, e o Vasco mesmo não percebendo totalmente, pelo menos no início, foi bastante importante para mim todo o apoio. E tu claro, só o facto de irmos as duas para tua casa ou para a minha e estarmos completamente à toa sentadas no chão a ouvir música, fazia sentir-me mais leve, pelo menos naquele momento, e mesmo quando voltava para casa, nem que fosse no dia a seguir voltávamos a ter aqueles momentos, não precisávamos de falar, precisávamos apenas daquilo.
M- O que achas que as pessoas pensaram quando souberam que tinhas Bulimia?
F- Sei que muitas ainda hoje pensam que foi apenas uma birra de adolescente, mas talvez nem importe, porque os que realmente importam estiveram do meu lado. Toda a gente teve um papel importante, principalmente essas pessoas, talvez porque quando estava com elas não era eu, tornava-me completamente submissa. Apesar de tudo gosto muito delas, passámos bons momentos, mas não tinha liberdade para ser eu.


Cada palavra da Fagulha fez-me querer saber e perceber mais sobre as pessoas, o porquê de nos tornarmos submissos do nosso grupo de amigos, o porquê das culpas atribuídas ao nosso meio familiar através de quem está de fora, o porquê de termos que ir para a direita se o caminho que queremos seguir é pela esquerda.
Esta conversa foi importante e de qualquer modo arrepiante para mim, que guardo sempre as emoções no bolso quando me junto com alguém, não quero ter pontos fracos nem fortes, quero ser eu, sem as transparências do meu mundo.
As pessoas são cruéis, todos nós temos o poder de o ser, conseguimos desiludir alguém nem que seja uma vez na vida, mas este alguém talvez seja importante para nós, talvez nos dê um abraço de compreensão.
Não podemos ter medo das palavras, temos que ter precaução sob o que está por de trás delas, não estamos livres de nada, nem do que já tivemos.
Obrigada ❤







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