Volta

Isto é uma carta aberta a uma pessoa que em tempos conheci,  ela era doce, carinhosa, ingénua, calma e com os pés assentes na terra, o seu sorriso ia de orelha a orelha, o colo da mãe era o refúgio de Deus na terra. A família sempre foi o lugar perfeito, o lar, aquele conforto inexplicável.
As festas eram o tédio, a noite era o seu maior medo, as ações eram demasiado calculadas, para que nada dê-se errado.
Esta pessoa, nunca irá ler esta carta, porque perdeu a ingenuidade toda, os pés subiram para a lua, o colo da mãe foi perdendo o lugar no pódio, as festas passaram a ser o lar, e a noite o conforto, o dia a confusão. As ações deixaram de ser calculadas, e passaram a ser apenas reacções de segundos.
Já perdi muitas pessoas, umas que voaram, outras que não faziam parte da minha vida ou que não teriam de fazer, mas nunca nenhuma me fez sentir tantas saudades como esta.
Apaixonada pela vida, com medo da morte, deixou-se morrer, transformar-se, não são as roupas, não é o cabelo, não é o fumo do tabaco ou o cheiro a álcool depois de uma saída com os amigos, mas sim a essência que foi deixada para trás, tornou-se banal maltratar o estômago, ver ossos nas fotos e gordura no espelho, afogar o sangue no álcool, e a cabeça na almofada. 

             

Dizem que na adolescência somos descontrolados nas saídas, a adolescência dela passou-se em casa agarrada ao passado a derramar lágrimas mal gastas, a tentar matar mágoas ainda vivas, a esmagar memórias que ainda hoje estão turvas. 
Sinto que a perdi para sempre, ela era a minha própria sombra, a minha melhor amiga, a minha maior confidente, e tornou-se na minha maior traidora.
Maltrata-me, rebaixa-me, não me dá confiança, não me segue mais...
É casmurra, fecha os ouvidos às vozes do povo, e ouve as da própria mente, a sua maior inimiga.
Esta carta, é para ti Maria, tu que sorris com dor, que choras com alegria, que gritas com calma, que sussuras com raiva, que odeias com amor e que amas com ódio, para ti que fazes tudo ao contrário, para ti que partiste e ainda não voltaste.
Tenho saudades tuas, daquilo que te roubaram, da essência desse teu sorriso, da forma leviana e bruta ao mesmo tempo de encarar a vida.
O vento levou te de surra, mas
.. Se eu lhe pedir com jeitinho ele devolve-te? 

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