Hoje não temos tempo

Quero ter as palavras certas e não as tenho, e dizer te a ti e não consigo.
Felizmente cheguei à fase que nem todos os seres (infelizmente) chegam, muitos ficam pelo caminho drasticamente, enquanto pessoas como eu ficam a fazer do caminho algo drástico.
A fase em que as dezenas de amigos não existem, no máximo temos 2 ou 3, e tão dolorosa que é a forma de os identificar.
A vida mete nos à prova muitas vezes, e enquanto à prova estamos, todos se vão embora e apenas tu ficaste, nunca ninguém se esquecerá desse esforço quanto mais eu, que derramei mil lágrimas sobre ti, que te despejei mil histórias pela madrugada e durante dias a fio.
E o resto da dezena onde estava? Na discoteca a sair? Em casa sem saber lidar?
Juntas passámos uma etapa que jurava impossível e interminável, acabas te por te sentir a pessoa que fica em casa enquanto eu estou na discoteca com pessoas que mais tarde me vão deixar mesmo antes de eu tropeçar de novo, mas eu vou continuar na discoteca, e cada copo que eu beber vai ser para afogar as memórias que tu me ajudas te a matar, vai servir para brindar à nossa amizade mesmo que não estejas ali comigo. Vai servir para esconder as dores que sinto para um dia mais tarde quando estiver ressacada e sem os copos de vodka na mão, estar consciente da tua ausência por falta da minha presença.

E volto a cair e sei que estás lá, de facto não da mesma forma nem com a mesma intensidade, nem com a mesma dor no olhar, mas também que esperamos? Agarramos no copo e na dezena de "amigos" que não nos conhecem por de baixo de uma maquilhagem e roupa de gala, e deixamos em casa aquele par de amigos que nos conhece para lá da maquilhagem horrorosa, das roupas pindericas, das bebidas inúteis, dos risos falsos e danças descontroladas.
Pedimos tantas vezes por encontrar as pessoas certas, desde amigos a namorados, e muitas das vezes a vida já nos deu e nós, nem reparamos que não precisávamos de convite para sentar no sofá da casa deles sem maquilhagens , e despidos de preconceito. Preferimos aceitar o convite de chegar a casa às 7h da manhã e acordar às 17h com a maior dor de cabeça de sempre, na esperança de que à noite os amigos do sofá ainda estivessem lá, e estavam mesmo.
E eu estou aqui, sentada no carro a caminho do trabalho, continuo a ter a maior dificuldade em dizer às pessoas de que gosto isso mesmo ou o inverso. Escrevo então entre linhas, para que as coles e percebas simplesmente que és a minha amiga do sofá que tanto prezo. A amiga com quem partilhei e partilharei sempre as dores e alegrias , com quem pintei a cara porque sim, a pessoa que melhor  entende os meus ataques de pânico, as minhas manias, a pessoa com quem partilhei desde chocolates uma noite inteira a maçãs por uma longa tarde. Aguentas te do meu lado como mais ninguém de fora aguentou, até mesmo depois de sair para a discoteca e não me lembrar de te ligar.
P.s: I hope you read it, i love you