Dear moms

Decido escrever vos, não por saber o que é estar do vosso lado, mas sim por ter estado do lado das vossas filhas/os, sim também existe nos rapazes, e muita gente nem desconfia.
Quero partir do momento em que estamos sentadas à mesa com a nossa mãe, e dez olhos postos sobre nós torna se pouco, falo apenas na mãe porque deparei me com o resto da família a fugir da mesa para se proteger.
Com isto dos dez olhos, que só uma mãe, o maior ser, consegue ter, quero dizer que até os bolsos da roupa são esconderijos perfeitos para a comida, assim que os dez olhos estão ocupados, fugimos de surra até ao caixote do lixo, ou dá nos uma forte dor de barriga, e temos de ir à casa de banho, e o jantar ou almoço passa magicamente do prato para os canos lá de casa. E aquilo que não conseguimos deitar fora graças aos dez olhos, torna-se no maior peso na nossa consciência, e fecha nos no quarto a fazer exercício até nos sentirmos confortáveis, ou então vamos até à casa de banho e fazemos com que tudo saia de nós.
E o que se passa em casa repete-se na escola, os amigos vão desaparecendo pelo facto de nos afastarmos deles.
Se eles podiam tomar outra atitude? Sim é verdade, mas não podemos criticar as pessoas por não compreenderem, digo isto porque a minha melhor amiga de turma não me entendeu e afastou se de mim, mas parte da minha família também nunca entendeu.
O nosso sofrimento é enorme, não se trata de uma birra muito menos da doença da moda, por dentro estamos a gritar ajuda e ao mesmo tempo nem conseguimos admitir que temos um problema, a não ser a visão de um corpo horrível de grande, que ninguém vê para além de nós.
Recordo-me perfeitamente de muitos nomes que dava ao meu próprio corpo "monstruoso, nojento, hipopótamo", recordo-me melhor ainda dos olhares de ódio dos quais a minha mãe me repreendia por fazer perante as outras pessoas, perante o seu corpo, e é algo tão inconsciente da nossa parte.
É nestas alturas que eu percebo que a minha mãe não tem noção de metade das manhas e truques que eu tinha, como vocês mães não devem de ter, a internet tornou-se na minha "melhor amiga" que quase me matou.
Sim é verdade, lá encontrava a Ana e a Mia, que prometem estar sempre do nosso lado, e esse grupo é maior do que se possa imaginar, este fantasma é mais poderoso do que alguma vez pensei, a Anorexia, intitulada por "nós" como Ana, dá se a conhecer e desenvolve se em imensos sites, tais como "Pró Ana", a Bulimia, conhecida como Mia, Igualmente.
Fora as pesquisas no Google que nos permitem chegar a receitas que deveriam ser banidas, e imagens de corpos ditos do corpo ideal longe de o serem. Porque na verdade isso não existe sequer, cada uma tem o seu corpo, do jeito que é.
Tudo isto da minha parte tem o propósito de querer ajudar as mães a ajudarem as filhas que aparentemente não querem ser ajudadas.
Não existe uma fórmula mágica para nos fazer comer, nem gritos nem desespero, só a calma e a compreensão, tentar compreender o incompreendido. Passei tantas noites em branco, por falta de nutrientes no meu corpo que produzissem melatonina para que adormecesse. Nada me aquecia muito menos nada me reconfortava. O que me reconforta agora é conseguir admitir tudo isto, não ter mais vergonha de algo que não nos podemos culpar.
Há tantas palavras que quero dizer, tantos abraços que vos quero fazer chegar. Se há um ponto importante nisto tudo é nunca desistir, nunca parar de tentar contornar a situação.
É como os fantasmas da nossa infância, mas apenas foram crescendo tal como nós, e ficaram mais fortes ainda.

Com todo o carinho do mundo,

Somebody's daughter.

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